"Agrada-te do Senhor, e Ele satisfará os desejos do teu coração. Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e o mais Ele fará." Sl37: 4-5















sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Vale a pena ler

Oi gente, uma amiga minha que mora na Alemanha foi passear em Lisboa e se deparou com uma história que vale a pensa ser lida e compartilhada. Não somente pela beleza e profundidade do tema abordado, mas tb como uma forma de divulgação para que as autoridades brasileiras se posicionem em relação ao fato.
Eu copiei o texto pra colocá-lo aqui, mas vcs podem acessa-lo no blog Wagau http://wagau.blogspot.ca/2012/12/fim.html

FIM DO MUNDO NA AVENIDA DA LIBERDADE!


Hollywood nem precisaria encenar o Apocalipse no aterrorizante filme 2012, que exibe o fim dos tempos baseado nas profecias do calendário Maia. A queda da humanidade e a derrocada do planeta já acontecem diariamente, sem a participação de catástrofes naturais.
 
Wagando por Lisboa, a pitoresca cidade dos grandes navegantes, me deparei com o fim do mundo, em plena Avenida da Liberdade! A existência sem teto do fabuloso dom Enrique. É assim chamado, pelos lisboetas, o morador de rua mais querido da cidade. Personagem que presenteia turistas e a elite local com a sabedoria do seu espírito revolucionário e uma fé sem tamanho.


É um prazer fora do mapa sentar ao lado deste ancião intelectual, sociólogo e psicólogo para filosofar, falar de Goethe, Fernando Pessoa, cantarolar a MPB e ver seus olhos brilhando em lágrimas ao se lembrar do Brasil de suas memórias. Só que as conversas não acontecem num sofá da sala de estar, mas nas escadarias frias da marquise do cinema São Jorge, onde transeuntes de todas as classes sociais sentam lá para conversar com o sábio.


É um desprazer tremendo, entretanto, saber que esta pessoa brilhante é o protagonista de um roteiro amargo cujo título só pode ser “O fim do Mundo na Avenida da Liberdade!”Ele não é o único indigente da vida real. No Brasil, crianças, idosos, famílias inteiras habitam as calçadas. Mas a saga de dom Enrique, o mártir do passeio público, simboliza bem os caminhos errantes que nos trouxeram ao fim. Encontrá-lo, no dia 21, me sugeriu outras rotas, a da reflexão, do amor, da justiça e da solidariedade.


Quem for a Lisboa, depois de passear na Liberdade, uma das avenidas mais caras do mundo, visite esta lenda viva, se ele ainda estiver por lá. Não ofereça abrigo ou dinheiro, pois ele não aceita, mas dê seu ombro amigo e ouça histórias que nenhum outro vivente poderá lhe contar.
 

Enrique Perez Farreny é um espanhol de 81 anos. Ele wagou pelo mundo e parou no Brasil, onde chegou a ter muitas posses. Seu patrimônio foi destruído pela ditadura militar. Hoje, ele mora embaixo da marquise na capital portuguesa. Em jejum constante, este amável velho bebe apenas água com vitamina C, e fuma um cigarro de vez em quando para esquentar. Não come há 56 dias, faz sua greve de fome como uma queixa silenciosa, já que tenta sem sucesso que o governo espanhol conceda sua aposentadoria como Espanhol-Brasileiro, como direito pelos anos trabalhou nos dois países. O argumento do estado Espanhol é “não ter recebido os documentos relevantes do governo brasileiro”.


A luta dele já dura mais de uma década. O governo espanhol se recusa a pagar a aposentadoria e argumenta precisar de uma carta do Brasil, mas ele garante que o Brasil já a havia enviado e os espanhóis "sumiram" com o documento. Abaixo, publico a carta enviada por ele ao governo Espanhol e a resposta negando a aposentadoria ou reforma.


Ele não aceita negociação, não quer ir para um lar de idosos. Prefere morrer. Don Enrique persiste na luta que ele considera um direito inalienável, sua aposentadoria. Se recebida, promete sair das ruas, voltar ao Brasil e rever o túmulo dos seus pais. Mártir da terceira idade, alega que, se aceitar esmolas ou abrigo, perderá a luta e outros velhos terão seu futuro ceifado nas ruas, sem a ajuda da Previdência Social.
 

À tentativa de convencê-lo a ir para algum abrigo para não morrer de frio, ele respondeu: “Eu não quero casa, quero meus direitos!” Envergonhada da nossa "desumanidade" como espécie, apenas falei: “Dom Enrique, sinto muito por tudo isso. Desculpe por nosso mundo ter chegado a este ponto!”
 

Ele não aceitou entrevista filmada, mas permitiu sair em matéria no Wagau. Revelou que não confia mais na imprensa: da última vez que uma TV fez uma reportagem, ao invés de ajudá-lo quase foi internado pela polícia num manicômio. O psiquiatra logo o liberou, depois de constatar sua absoluta sanidade mental.Enfraquecido e magro, tem esperança de que possa haver uma última heroína, a presidenta do Brasil. Afirma que, se ela soubesse do seu caso, ele não estaria ao relento, pois assim como ele, ela foi vítima da ditadura brasileira.

Como operária da comunicação, fiz uma cópia do documento que comprova a sua tentativa de receber a reforma e prometi contatar com as autoridades brasileiras. Ele disse, em tom manso: “Minha filha, vá até onde puder ir, sentar ao meu lado e me ouvir já é o grande presente no incentivo da minha luta. Construa outra velhice para você e os seus! Já estou perto de partir deste mundo”.


Saí de Portugal com aperto no peito e, da Alemanha, escrevi uma carta para a presidência do Brasil. Relatei o caso deste idoso e sua dificuldade em retirar sua aposentadoria. E muito me contentou que minha prosa na sarjeta não tenha sido em vão: já recebi alguns e-mails que me trouxeram esperança, como de Alessandra Vinhas, assessora de imprensa do Ministério das Relações Exteriores: “Cara Rafaela, Ficamos muito sensibilizados com a história desse senhor. A área responsável pela negociação de acordos de previdência com outros países vai se articular com o Ministério da Previdência Social para averiguar o que pode ser feito para que ele possa receber a aposentadoria na Espanha. Assim que tivermos novas informações, voltaremos a contatá-la”.

É meu desejo que, no dia em que você visitar Lisboa, dom Enrique já não esteja nas ruas nem tenha passado para o outro lado do caminho, mas esteja no Brasil, após receber a aposentadoria a que tem direito, confortável numa sala de estar, recebendo visitantes e jornalistas.


Fiquei muito contente por tê-lo conhecido e suas prosas ainda pairam nos meus pensamentos. É muito triste saber que a face da velhice se mostra tão cruel. Sua tenacidade está à beira da morte e, antes da minha partida, ele havia colado um novo cartaz anunciando o estado meditativo. Que chegue ao fim este tipo de mundo onde vivemos, onde velhos moram nas ruas e políticos em palácios, e que o Brasil ajude a mudar histórias tristes como a deste genial e desamparado senhor. (Rafaela Carrijo Jeckle, 21.12.2012).
 

Obs: Se alguém tiver o contato da presidenta Dilma ou acesso à previdência social espanhola, por favor, enviem este arquivo.


Um comentário:

  1. Na Hastings x Main Street tem um monte deles. Todos sao inteligentes, sabios e foram ricos ou vieram de familias ricas. Tem um medico vivendo nas ruas de Victoria-BC. O Province publicou durante 1 semana as estorias de todos eles. A idade varia de 18 anos ate 69 anos. Doi a alma. Doi ler as estorias, apesar de nao quererem mudar. Sao homeless ou HoBo. Este coitado nao seria mais um deles? fazendo greve de fome nas ruas de Portugal como vai chamar a atencao da Espanha e Brasil? Acho que varios politicos com advogados poderiam mudar alguma coisa, mas sozinho, falando com turistas? So orando..

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