Um dia faz diferença

Hoje acordei bem mais disposta do que ontem e os demais dias pós-quimio; é incrível como melhorei!!! não estou mais me sentindo exausta; claro que tb não estou disposta pra correr a São Silvestre rsrsrsrsrsrs... mas, pelo menos, tive ânimo de levar minha filha pra natação, ir ao banco, fazer as unhas, enfim, fiz coisas que ontem eu não consegui nem pensar... ah! e o enjoo diminuiu consideravelmente.

Uma coisa interessante que eu tenho observado desde que enfrentei o câncer é a quantidade de pessoas que se tratam da mesma doença. Constantemente eu me deparo na rua, no shopping, em clínicas, com pessoas usando lenços, chapeus ou perucas. Acho que antes era uma coisa que não me chamava atenção, mas agora, como estou vivendo na pele, observo com mais facilidade... tem muita gente fazendo quimio por aí!!! Às vezes eu não resisto e pergunto como está o tratamento, na maioria das vezes as pessoas reclamam de uma ou outra coisa, mas sempre demonstram uma força interna muito grande, uma vontade de superação admirável.

É incrível como a gente nunca acha que coisas ruins podem acontecer com a gente ou com alguém muito próximo... até acontecer, né??? Existem muitas pessoas ao nosso redor enfrentando problemas sérios, doenças complicadíssimas e a gente não percebe. O mundo é tão louco, tão corrido, temos que alcançar nossos objetivos, realizar os nossos sonhos, não dá pra prestar atenção nos outros, nós somos o centro de nós mesmos... até uma vírgula aparecer no caminho.

Eu nunca imaginei que com 33 anos eu descobriria um CA de mama, nunca!!! Mas, ao mesmo tempo, eu agradeço a Deus por ser uma pessoa antenada com o mundo. Sempre li reportagens sobre o câncer de mama, sempre prestei atenção nas campanhas de prevenção e, desde muito cedo, aprendi a observar o meu corpo; foi isto que fez com que eu descobrisse o câncer ainda num estágio tão inicial, graças a Deus. Mas quantas outras pessoas vivem na ilusão de que nada acontece com elas???

Vcs podem me chamar de maluca, mas às vezes eu me sinto privilegiada de passar por um momento tão difícil, sim, privilegiada rsrsrsrsrsrsr... É que tudo o que estou vivendo me torna mais humana, mais mortal. Quando a gente se depara com um grande desafio, todas as coisas secundárias, como: dinheiro, emprego, status, viagem, carro novo, casa dos sonhos, enfim, tudo perde o valor, a única coisa que realmente importa é a vida.

Eu lembro que eu e o meu marido vivíamos numa busca desenfreada por mais nos EUA, era muito trabalho, muitas contas, muitos objetivos; até que eu tive um parto prematuro e vi a minha primeira filha, com 21 semanas, lutando pela vida dentro de uma encubadora. Naquele momento eu disse ao meu esposo que eu abriria mão de tudo o que tínhamos, de tudo, pra tê-la viva, com saúde... o Senhor a levou 3 dias depois.

O que posso dizer, pela minha pouca experiência, é que não vale à pena vivermos presos às coisas pq elas não têm o valor que aparentam ter. O mais importante é aprendermos a valorizar pessoas, pq estas sim, têm valor eterno.